segunda-feira, 26 de setembro de 2011

vai e vem

voam plenos em sua autonomia
seguem qualquer via:
talvez a violeta de fim de tarde
ou a encruzilhada que lhes der vontade

cantam as melodias mais raras
descompassadas e descabeladas,
pulam em contratempo
constroem o ritmo conforme o vento


e com tanta liberdade
não se perdem dentro do próprio caminho?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

that´s the way

And yesterday I saw you kissing tiny flowers,
But all that lives is born to die.
And so I say to you that nothing really matters,
And all you do is stand and cry.

o fenômeno da reverberação aplicado a adolescentes em uma tarde quente

Desenhava círculos no ar com os pés suspensos. O corpo rencostado na rede, já sem energia. Mirava o horizonte com os olhos semi cerrados - esperava o pôr-do-sol.
O outro corpo na varanda também estava imóvel, sentado em uma cadeira de balanço que não balançava. As árvores não agitam suas folhas. Era uma tarde de verão insuportavelmente quente.
O único ruído que atravessa a densidade do ar era o canto das cigarras - se podiam ouvir há dias, mas a chuva não chegava. Até que a garota arriscou:

- Talvez pudéssemos tomar uma limonada.

Os dois se entreolharam e a seguir voltaram-se para o interior da casa de madeira: não tinham realmente vontade de entrar no único lugar na face da terra que deveria estar mais quente que ali, ainda mais para fazer suco.

- Acho que não foi para essas férias que nos inscrevemos, quero meu ticket de volta. - e uma risada constrangida que ecoou por minutos.

As palavras estavam tão escassas quanto a brisa.
O garoto levantou-se e deitou-se ao lado dela na rede, que balançou e fez um ruído metálico em reclamação ao peso, até que calou-se.
Ela ajeitou-se no ombro dele.

- Tenho um presente pra ti. Encontrei o outro dia na praia. Estava guardando pra outro momento mas... - e levantou com a perna a bolsa que estava jogada ao chão. Colocou um braço dentro, o outro, revirou, até que volveu-se vitoriosa ao outro com as duas mão cerradas e um meio sorriso no rosto.
Abriu os punhos dela como quem desembrulhava uma embalagem cuidadosamente feita, levantando lentamente dedo após dedo. O rosado pastel que surgiu trouxe uma nova cor à tarde lenta.
Tirou cuidadosamente os resquicios de areia da superfície e levou o presente ao lado da cabeça, encostando-o a sua orelha.
Ela pensou em dar o discurso que tinha programado pra quando lhe entregasse. Ao invés, por entre seus lábios surgiu somente uma frase, meio abafada e desajeitada:

- Aí dentro a brisa é eterna.

Juntaram-se, os dois quietos, escutando atentamente ao som de todos os outros dias.

O sol parecia não querer se pôr.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011