quinta-feira, 31 de março de 2011

provisório

Esqueçam o cemitério de Recoleta com seus mausoléus cheios de teias ou a delicadeza e efemeridade das rosas de Palermo: o lugar mais melancólico de Buenos Aires é Puerto Madero. Com seus prédios brilhantes, sua limpeza irreal e a alegre família tirando fotos para o retrato da sala - é impossível se sentir humano, se sentir feliz.

Sentei-me no banco mais longíquo e observei as águas dos diques artificias: o único lixo existente boiava sem pudor, era uma rosa.

Mesmo os moradores dos prédios reluzentes não pareciam acreditar em onde estavam, pois, não muito longe, por suas janelas, podiam ver o cinzento centro da metrópole.

Os turistas nos restaurantes, que estarão ali por talvez somente uma noite (enquanto esperam o cruzeiro partir ao proximo destino), sentem como se tivessem recebendo comida de avião: pré pronta e feita sob medida para...todos.

É uma transição, uma casa de brinquedos.

Puerto Madero é morto.

terça-feira, 29 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

meio verdade, meio eu.

Quando penso que tudo que crio, enquadro ou expresso já está subjulgado a um padrão, me frustro. A cadeira que subjetivo olhando o contorno desforme de sua sombra, o morador de rua com dentes escuros e envelhecidos que daria um poema... Não são o que vejo. O capricho da rainha de copas de pintar o exterior das rosas com tinta vermelha não as fez menos brancas.

Essa busca pela essência única de cada coisa tem me afastado cada vez mais de sua realidade.





E até quando tento uma externalização de algo que nem sei - vem limitada pela minha vontade de que seja bela. Já perdi metade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

insatisfeita




Agora falta algo e sempre faltará - farei do meu quarto de espera um lugar agradável.

Pintarei-o de cores diferentes, pendurarei quadros para mais tarde tirar, vou trocar a cama de lugar...

quarta-feira, 16 de março de 2011

presente




Não é sobre camisetas velhas no armário, a mesma música já exausta de tanto tocar, ou a foto que parece ter desbotado depois de ser vista dezenas de vezes. Isso você já teve, eu já tive... o leitor curioso, também.

É sobre o presente, o ontem (que nada mais significa do que querer trazer-lo para hoje) e o amanhã (e sua ansiedade para que vire..hoje). Isso é o instransferível e imprescindível.

O resto é adereço.

sábado, 12 de março de 2011

chuva e seus acessórios

Primeiro dia de chuva desde que cheguei na Argentina. Eu estava no centro da cidade, felizmente, com minha analógica na bolsa - infelizmente, é analógica, o que significa que as fotos só na próxima quinzena.




A precipitaçao veio acompanhada de um frio muito bem recebido e este, por sua vez, trouxe seu adendo inseparável, a saudade. É uma sucessao de eventos bem simples e lógica na minha cabeça: calor insuportável, umidade do ar no limite, condensaçao do vapor em água, chuva, frio, casaco, café/chá, músicas em versao acústica, saudade.


PS: isso é na praia do Farol de Santa Marta. Obrigada ao pessoal da digitalizaçao por essa adoravel mancha azul na minha foto.

sexta-feira, 11 de março de 2011

angulos

No seu contexto:







Em outro contexto:



Certas coisas só funcionam sob um determinado ponto de vista.

quinta-feira, 10 de março de 2011

futuro do pretérito

Com a ponta da adaga, cortaria tudo que é seco
Iria me livrar dessa carcaça,
Da carcaça que tenta preencher o nada.

Não daria ouvidos a gemidos de dor
ou ao discurso de espanto e desaprovação
Me despiria, que fosse tudo ao chão.

Te diria para tocar além do toque
Te chamaria mais para perto
Dessa vez ao certo.

Te pediria para entrar sob minha pele
Vestiria a minha própria por cima
E finalmente terminaria nossa rima.

Preveniria qualquer tentativa de lucidez,
Costuraria com fios de aço
De maneira a não deixar nenhum espaço.

Não conjulgaria no futuro do pretérito.

quinta-feira, 3 de março de 2011

a leap of faith

Boas vindas não são feitas para serem verdadeiras e tranquilizadoras, são, na verdade, um voto de confiança.
É deparar-se com o desconhecido e tratá-lo como se fosse esperado, agregar o que nem sempre parece coerente, dar um meio sorriso, "esperar para ver".


Esse dia faltou luz no albergue, tomei café da manhã "no escuro".