sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

rare

It doesnt happen too often - most of the time, I just don´t know what to do with myself. Maybe because I like it that way, to not know is to know every possibility is out there waiting, every supernova waiting for the next explosion.

But oh when I do know. Every single thing that not the one I truly want seems disgusting. Every other way, ugly; every other body, cold.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

conterrâneo de outra cidade

Ao vê-lo caminhando pelo gramado, cada vez mais próximo, deixou o sorriso pintar o rosto com diversas cores. A cidade era grande e as pernas eram muitas - seguir com os olhos aquele caminhar de ritmo já conhecido lhe trazia tranquilidade.

Ele chegou até ela. Sentaram-se na relva e riram até que o céu lhes contou que já era hora de ir embora.

Antes, precisava se confessar. Tímida, ora olhando para ele, ora para os próprios dedos, que não encontravam descanso em sua mão, soltou a prosa: sinto que aqui tu é o único que me conhece de verdade senti sua falta gosto da sua companhia não queria me despedir...
Desviou o olhar e disse com um suspiro: minha casa me espera.

Ele deu um sorriso frente à ansiedade da garota e tocou-lhe o rosto de maneira cálida. Não se preocupe.

Fez-lhe uma promessa: quando nos vermos novamente, já haverá passado tanto tempo que seremos outros. Não sentiráss mais minha falta, senão a falta de alguém que já não há. Não sofrerás. Nem a falta da tua casa sentirás - lá também já não te conhecerão.

Serás livre e não sentirás a falta de ninguém.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

surgery

Afterwards, I realized i´d cut more then I should have. The strings that kept it all together were gone.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

chuva no bairro chinês

Sempre que ia ao bairro chinês, chovia.
As sombrinhas coloridas competiam por espaço na calçada, exibidas. Diziam: sou oriental e custo menos de 5 reais.
A última vez que havia ido, comprou uma na tentativa de manter-se seca, o que acabou por falhar, já que ao iniciar o caminho de volta para casa o guarda chuva se desmontou. Como se houvesse uma magia que não permitisse que funcionasse em outros lados da cidade.

Tudo ali tinha mais cores e mais plástico. O idioma era outro, mas quando olhava os tristes rolos de primavera deixados no fundo da panela, fritos e frios, sentia uma empatia.

Nas tendas, as mais distintas bugigangass com símbolos estampados que não lhe diziam nada, ou pensando bem, diziam: me compre. Bonecos com sorrisos que iam até as orelhas, olhos grandes que para ela pareciam esbugalhados em terror. Use um como chaveiro, coloque o outro na estante. Contrastavam com os rostos suados dos vendedores, que já incerciamente, acompanhavam as letras das exóticas canções, sentados no caixa tamborilando os dedos.

Outra vez do lado de fora, excitada com a idéia dos novos sabores que provaria, buscava entre as vitrines algo que lhe parecesse diferente.

Sentia que, no entanto, já havia provado o essencial daquele lugar e era igual que o seu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

vai e vem

voam plenos em sua autonomia
seguem qualquer via:
talvez a violeta de fim de tarde
ou a encruzilhada que lhes der vontade

cantam as melodias mais raras
descompassadas e descabeladas,
pulam em contratempo
constroem o ritmo conforme o vento


e com tanta liberdade
não se perdem dentro do próprio caminho?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

that´s the way

And yesterday I saw you kissing tiny flowers,
But all that lives is born to die.
And so I say to you that nothing really matters,
And all you do is stand and cry.

o fenômeno da reverberação aplicado a adolescentes em uma tarde quente

Desenhava círculos no ar com os pés suspensos. O corpo rencostado na rede, já sem energia. Mirava o horizonte com os olhos semi cerrados - esperava o pôr-do-sol.
O outro corpo na varanda também estava imóvel, sentado em uma cadeira de balanço que não balançava. As árvores não agitam suas folhas. Era uma tarde de verão insuportavelmente quente.
O único ruído que atravessa a densidade do ar era o canto das cigarras - se podiam ouvir há dias, mas a chuva não chegava. Até que a garota arriscou:

- Talvez pudéssemos tomar uma limonada.

Os dois se entreolharam e a seguir voltaram-se para o interior da casa de madeira: não tinham realmente vontade de entrar no único lugar na face da terra que deveria estar mais quente que ali, ainda mais para fazer suco.

- Acho que não foi para essas férias que nos inscrevemos, quero meu ticket de volta. - e uma risada constrangida que ecoou por minutos.

As palavras estavam tão escassas quanto a brisa.
O garoto levantou-se e deitou-se ao lado dela na rede, que balançou e fez um ruído metálico em reclamação ao peso, até que calou-se.
Ela ajeitou-se no ombro dele.

- Tenho um presente pra ti. Encontrei o outro dia na praia. Estava guardando pra outro momento mas... - e levantou com a perna a bolsa que estava jogada ao chão. Colocou um braço dentro, o outro, revirou, até que volveu-se vitoriosa ao outro com as duas mão cerradas e um meio sorriso no rosto.
Abriu os punhos dela como quem desembrulhava uma embalagem cuidadosamente feita, levantando lentamente dedo após dedo. O rosado pastel que surgiu trouxe uma nova cor à tarde lenta.
Tirou cuidadosamente os resquicios de areia da superfície e levou o presente ao lado da cabeça, encostando-o a sua orelha.
Ela pensou em dar o discurso que tinha programado pra quando lhe entregasse. Ao invés, por entre seus lábios surgiu somente uma frase, meio abafada e desajeitada:

- Aí dentro a brisa é eterna.

Juntaram-se, os dois quietos, escutando atentamente ao som de todos os outros dias.

O sol parecia não querer se pôr.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

sem estação

Praia em qualquer época do ano tem aquele gosto inconfundível de sal, que entra por todos os poros e envolve a todos em sua própria maresia. No inverno, além disso, tem gosto do vinho, pilha de cobertas e chocolate de madrugada.








Pegadas que foram apagadas pela chuva, mas que minha câmera teve que registrar.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pensamento científico

Adentrar a sociologia da rotina, da semana e do mês - até que façam sentido.

Encontrar uma classificação que abarque os sentimentos em suas variações turbulentas em gêneros e classes - nota: quanto mais designações, menores denotações

Dissecar e desnaturalizar. Tudo para chegar ao mais simples - não cheguei.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

transbordando de vazios

Como uma bola de sabão - que somente tem razão de ser durante sua própria breve existência -, fechou os olhos e partiu, deixando o lugar exatamente como era antes que chegasse, completo em sua natureza sem sentido.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

window watching



She spent hours and days and months and ages staring through that window. Couldn´t move away, couldn´t look away. She was on a deep hypnosis, only nobody had hypnotized her.

Time was frozen, and if it ever started running again and she was asked what she had seen..she wouldnt be able to anwser.
Maybe it wasn´t about observing - it was about waiting for something to happen.

sábado, 9 de julho de 2011

dead end

Posso passar o dia inteiro perdida em mim mesma. Vou e volto nos mesmos caminhos e, quando já não houver mais, invento o que não sou.

terça-feira, 5 de julho de 2011

fim do começo

Dias de sol e vento
Que me levou e agora me traz outra vez à minha cidade
Manhãs gélidas e paradas no tempo
Do que já não pode ser, do que sobrou da saudade

A casa de sempre, cheia de mim
O quarto de sempre, vazio nele mesmo
Caminho para chegar ao conhecido fim
Nas ruas de porto alegre não ando a esmo

Nenhuma outra capital poderia ser-me tão amarga e tão doce
Me despede, me recebe
Nenhuma outra capital poderia ser-me tão igual, ou tão diferente.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

people watchers

Não era o lugar mais conveniente para se comer, aliás, o oposto disso - como se, dentro de um projeto pessoal de almoçar em lugares não ortodoxos, tivesse escolhido aquele para o experimento da semana.
E ali estava, se erguia na forma ostentosa na selva de concreto, em direção ao céu. De um lado e do outro do extenso canteiro, carros passavam velozes, procurando chegar ao outro extremo da cidade o mais rápido possivel; ali no centro porém, algumas pessoas vendiam bugigangas aos passantes, outras liam o jornal.

A garota ao chegar ao lado do monumento, comparou a projeção da sua sombra com a do imenso adorno - a sua mal chegava ao paralelepípedo, a do obelisco, se alastrava por uma das avenidas mais largas do mundo, fazendo sombra para os pedestres.

Com seu pacote ainda quente entre as mãos, procurou um espaço livre e sentou-se entre uma das muretas, tentando proteger-se do vento que vinha por aquele imenso corredor de asfalto que era a 9 de Julio. Cruzou as pernas no próprio colo, destapou o recipiente de plástico e, depois de fazer com gestos um brinde silencioso ao progresso, começou a comer com seus talheres também de plástico.

Talvez desse partida ao seu projeto de comer em lugares não-convencionais, ou ali sempre. Era ideal: entre o trânsito constante de automóveis e pessoas, podia observar o quanto quisesse! Estava sentada com sua refeição chinesa no meio daquela confusão constante, no meio do relógio, um segundo antes do passo, um depois do trabalho. A delícia do anonimato na grande cidade.

Tão absorta em sua própria tarefa de abstrair o caminhar da senhora que passava à sua frente, não percebeu que sua descoberta de lugar não era inédita: na sua diagonal, um homem de fones de ouvido observava a senhora e agora mirava a menina fixamente pelo canto do olho. Analisava sua postura, seus anéis, seu caderno bagunçado. Seus olhares se encontraram rapidamente e se reconheceram como iguais.

No coração da cidade, um grupo desconhecidos se reunia para adorar a outros desconhecidos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

sem norte

Acredito profundamente de que se eu estou sem pista do que quero tirar foto, tem algo bastante errado.




É um pensamento óbvio, mas realmente preciso dar um passo para o lado para ver o lugar que eu estava ocupando.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

um minuto para ver passar o minuto.



Hoje, analisando as fotos que tirei para um exercício de aula, percebi que uma das melhores coisas que se pode ter para apreciar (no caso retratar) um momento é a o seguinte: descontração concentrada. Estar esperando por ele de uma maneira preguiçosa, assim graciosa e simples. Saber recebê-lo.

Não foi o que fiz. As ditas fotos ficaram um desastre. Um desastre bem pontual, quando pendurei-as no quadro em frente à turma e dei um passo pra trás para ver-las melhor, o equívoco óbvio me atingiu: não tinha realmente olhado o momento antes de registrá-lo.
Não é piada, creio que a devastadora maioria das fotos é tirada sem ter sido realmente vista antes. Tanta gente é fotografada sem ter sido observada, sem terem-lhes tido o cuidado de notar como o sol, ao tocar suas faces, as faz corar


Realmente valorizo o que me faz querer largar tudo e apreciar um momento em toda sua simplicidade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

deslugar

Desalugamos a banheira. Ex-apartamento.





Duas fotos em dias diferentes, fotografos e fotografados tambem distintos.





A primeira é um making of de um video, aliás.

domingo, 15 de maio de 2011

ao teatro

Ganhamos ingressos pro Teatro Colón o outro dia. Além de coincidir com minha vontade de conhecê-lo, foi na semana em que eu tinha que fazer um exercício de fotografia que era "retrate um lugar", o professor como sempre nos deixou bem livres - só não valia complicar e premeditar. É sempre um desafio pra mim, que sou controladora e sempre desejosa do momento que ficou forado meu enquadre.





Eu, apesar da arquitetura impressionante, me fixei nas pessoas. Naquele conjunto de seres que sentavam-se ordenadamente, cada um em seu devido assento, esticavam o corpo para frente e bebiam daquela música que fluía acima das cabeças de todos. Distanciados, abstraídos.







E foi assim meio retrato, mais sobre o fim do que sobre a essência.

domingo, 8 de maio de 2011

future-to-be

Lia o livro tranquila, deitada em sua cama. Ao terminar mais um capítulo, desenfocou as páginas um momento e pousou o olhar sobre o lado desocupado do colchão - a luz do abajur do criado-mudo lançava um feixe singelo sobre o travesseiro intocado. As cobertas estavam perfeitamente estendidas. Não era uma pessoa particularmente organizada, nem tinha o costume de fazer a cama todos os dias. Hoje, porém, por algum motivo desimportante, alisou os lençóis cuidadosamente, como se a espera de uma visita. Olhava aquele vazio perfeitamente em ordem, irônico.

Virou-se sobre seu corpo e deitou de maneira a ficar frente a frente com o nada. Sabia que dali a dez dias, estaria olhando para o rosto dele, e não para a fronha branca. E por saber o futuro, isso modificava o seu presente...de algum modo, aquela noite que sequer acontecera, se transportava para aquele preciso momento atual.

Não tinha saudade, não sentia a falta, a ausência - e sim uma presença intrusa. Ele tinha entrado em seu quarto, pé ante pé, silencioso, enquanto ela estava distraída, mergulhada em uma história qualquer que não a sua, e astutamente a raptara para um outro dia, naquele mesmo cenário.


Não podiam suportar a incertidão do amanhã - o construíam cada noite, antes de dormir.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

mudei de cep

espiei o sol nascer entre as persianas do teu quarto. deixei, ao entardecer, ele morrer nas minhas costas - tinha, pois, os olhos no outro horizonte.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

o limite pulou a cerca

To pulsando por algo tão grotesco que ultrapasse a barreira, até chegar no belo. E então ir adiante.

reticências

"Não sei". A resposta mais genial e mais estúpida - abre, ao mesmo tempo, todas as possibilidades e nenhuma.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

this is my way

A colher revolvia o líquido para um lado e para o outro, não era que brincava com a comida - interagia com ela. Pousou o prato fundo por um instante e se dedicou a olhar o relógio na parede de forma intensa, os ponteiros continuam a mover-se (ou a não mover-se, pela perspectiva da garota) na mesma velocidade de sempre, não pareciam ter a pressa que ela tinha.

Voltou à sua sopa, continuando a agitá-la distraidamente com o talher. As pequenas letrinhas flutuantes giravam desordenadamente e ela se pôs a juntá-las de maneira quase infantil, buscando formar palavras.

Tinha todo o alfabeto ali. Todas as possibilidades. Elas sempre estão ali, bastava que quisesse vêr-las, mas...insistia em formar uma única palavra, irritantemente. Considerou que a comida requentada estava a lhe pregar uma peça ao voltar a juntas as mesmas letras. A verdade é que não, não havia nenhuma divindade do acaso a guiá-la e tão pouco haveria uma que a impediria de formar outras sílabas.
Era um poder estranho, só o que necessitava era saber o que queria.

Era sua escolha.

O interfone soou anunciando uma chegada. Ela largou o pequeno universo letrado em cima da mesa, deixou o relógio para trás e correu para a porta.

domingo, 3 de abril de 2011

mesa de esquina

Há algo de mágico em sentar em uma esquina, tomar café e observar o movimento da rua.

Espero, paciente, entre o vem e vai de carros, a sinaleira acender sua luz vermelha para depois voltar a apagá-la.

Tento adivinhar - pelas expressões - qual motorista tem um evento importante a que está atrasado, quem está pensando no quadro novo que comprou para pendurar na sala, se há alguém dirigindo para um lugar enquanto preferiria outro...

Os taxistas têm sua peculiaridade, completamente alheios a vida que acontece no banco de trás.
Ônibus são quase uma overdose, porém não me distraio com a variedade de rostos nas janelas: me foco no motorista. Fatigado, percorrendo a mesma rua pela décima vez no dia, sem realmente prestar atenção nos movimentos já metódicos que realiza - na verdade, não me parece tão distinto das outras pessoas que passam.

Até que um loiro de cabelo escovado, dirigindo uma versão nova de um carro esporte que nunca saberei o nome, percebe minha silenciosa observação. Ele, depois de mostrar seus dentes perfeitamentes alinhados em forma de sorriso, me faz um convite. Não sei qual de nós dois estava mais longe do outro, presos em seu universo particular. Com troca de sinal, seguiu seu caminho e eu continuei em minha sempre vazia mesa de café.

quinta-feira, 31 de março de 2011

provisório

Esqueçam o cemitério de Recoleta com seus mausoléus cheios de teias ou a delicadeza e efemeridade das rosas de Palermo: o lugar mais melancólico de Buenos Aires é Puerto Madero. Com seus prédios brilhantes, sua limpeza irreal e a alegre família tirando fotos para o retrato da sala - é impossível se sentir humano, se sentir feliz.

Sentei-me no banco mais longíquo e observei as águas dos diques artificias: o único lixo existente boiava sem pudor, era uma rosa.

Mesmo os moradores dos prédios reluzentes não pareciam acreditar em onde estavam, pois, não muito longe, por suas janelas, podiam ver o cinzento centro da metrópole.

Os turistas nos restaurantes, que estarão ali por talvez somente uma noite (enquanto esperam o cruzeiro partir ao proximo destino), sentem como se tivessem recebendo comida de avião: pré pronta e feita sob medida para...todos.

É uma transição, uma casa de brinquedos.

Puerto Madero é morto.

terça-feira, 29 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

meio verdade, meio eu.

Quando penso que tudo que crio, enquadro ou expresso já está subjulgado a um padrão, me frustro. A cadeira que subjetivo olhando o contorno desforme de sua sombra, o morador de rua com dentes escuros e envelhecidos que daria um poema... Não são o que vejo. O capricho da rainha de copas de pintar o exterior das rosas com tinta vermelha não as fez menos brancas.

Essa busca pela essência única de cada coisa tem me afastado cada vez mais de sua realidade.





E até quando tento uma externalização de algo que nem sei - vem limitada pela minha vontade de que seja bela. Já perdi metade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

insatisfeita




Agora falta algo e sempre faltará - farei do meu quarto de espera um lugar agradável.

Pintarei-o de cores diferentes, pendurarei quadros para mais tarde tirar, vou trocar a cama de lugar...

quarta-feira, 16 de março de 2011

presente




Não é sobre camisetas velhas no armário, a mesma música já exausta de tanto tocar, ou a foto que parece ter desbotado depois de ser vista dezenas de vezes. Isso você já teve, eu já tive... o leitor curioso, também.

É sobre o presente, o ontem (que nada mais significa do que querer trazer-lo para hoje) e o amanhã (e sua ansiedade para que vire..hoje). Isso é o instransferível e imprescindível.

O resto é adereço.

sábado, 12 de março de 2011

chuva e seus acessórios

Primeiro dia de chuva desde que cheguei na Argentina. Eu estava no centro da cidade, felizmente, com minha analógica na bolsa - infelizmente, é analógica, o que significa que as fotos só na próxima quinzena.




A precipitaçao veio acompanhada de um frio muito bem recebido e este, por sua vez, trouxe seu adendo inseparável, a saudade. É uma sucessao de eventos bem simples e lógica na minha cabeça: calor insuportável, umidade do ar no limite, condensaçao do vapor em água, chuva, frio, casaco, café/chá, músicas em versao acústica, saudade.


PS: isso é na praia do Farol de Santa Marta. Obrigada ao pessoal da digitalizaçao por essa adoravel mancha azul na minha foto.

sexta-feira, 11 de março de 2011

angulos

No seu contexto:







Em outro contexto:



Certas coisas só funcionam sob um determinado ponto de vista.

quinta-feira, 10 de março de 2011

futuro do pretérito

Com a ponta da adaga, cortaria tudo que é seco
Iria me livrar dessa carcaça,
Da carcaça que tenta preencher o nada.

Não daria ouvidos a gemidos de dor
ou ao discurso de espanto e desaprovação
Me despiria, que fosse tudo ao chão.

Te diria para tocar além do toque
Te chamaria mais para perto
Dessa vez ao certo.

Te pediria para entrar sob minha pele
Vestiria a minha própria por cima
E finalmente terminaria nossa rima.

Preveniria qualquer tentativa de lucidez,
Costuraria com fios de aço
De maneira a não deixar nenhum espaço.

Não conjulgaria no futuro do pretérito.

quinta-feira, 3 de março de 2011

a leap of faith

Boas vindas não são feitas para serem verdadeiras e tranquilizadoras, são, na verdade, um voto de confiança.
É deparar-se com o desconhecido e tratá-lo como se fosse esperado, agregar o que nem sempre parece coerente, dar um meio sorriso, "esperar para ver".


Esse dia faltou luz no albergue, tomei café da manhã "no escuro".











quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

cedo de menos

escolhas são simples de tomar
a facilidade reside nas palavras
escritas no papel, jogadas no ar

é a própria racionalidade em porção prescrita,
ensaiada com a naturalidade
de uma extensa terapia cognitiva

agora caminho, já sujeito,
dou passos de concreto,
mas não consigo não retrair o peito


sei bem, não é cedo
medo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

procrastinar

Sem saco pra fingir criar algo - trago neste inédito post a mais sincera preguiça.




Em caso de baixa serotonina, quebre o vidro e retire o chocolate.





Sem edição também porque não tenho saco, só com um crop para deixá-las mais quadradas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

verão desbotando

Vontade de tirar fotos de meias compridas até os joelhos, de meias felpudas, com joaninhas e outras inhas estampadas - desde que cumpra sua função de esquentar.
Um par de pés perdido entre cobertas. Um chocolate quente para acompanhar seria bem vindo.

Só sei que quero inverno. Minhas fotografias do verão parecem já velhas e desbotadas.






Foto duplamente exposta e sem qualquer tipo de edição, só vazamento de luz mesmo haha.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

insolente romantismo

Do topo da minha praticidade, pensava em como organizaria meu próximo dia, agendava a consulta, projetava a assinatura. Com indiferença, ao lado das infinitas burocracias, marquei o dia da partida no calendário.

Racionalizava sobre como tudo estava se encaminhando de maneira satisfatória. Se pudesse, anexaria uma estrela de mérito, de maneira a me congratular pelas improvisaçõe extraordinárias que tomava em resposta aos desaforos da vida, sempre tão imprevisível.

Em uma pequena epifania indesejada, percebi como sentiria falta da tua pele. Não estava isso nos planos.
Lembrei daquele primeiro encontro atrapalhado meses atrás, que acabara na parada de ônibus. Enquanto esperava, ambos pensando se seria precipitado dar um novo passo(quem sabe um rápido beijo antes da ida? aconchegá-la pela cintura, culpando o frio?), os dois corpos, impacientes, iam se aproximando em segredo. Ao notar o único centímetro que nos afastava, você, com fingida despretensão, comentou: "daria um bom abraço."
E deu.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

do que passou

Seguir em frente nunca foi pra mim não olhar para trás. Ao contrário, deixo o peito contrair de desgosto, doer das decisões não tomadas, arfar de saudade - é depois de saber que o ontem não voltará que dou o próximo passo.

Pois, por mais que eu deseje, a areia do tempo jamais tornará a subir a ampulheta.




Agora deixo o dia me acordar e aguardo com uma xícara de café quente entre as mãos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

destino

correu para longe longe onde não poderiam a encontrar
talvez... talvez, não precisasse ter saído do lugar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

desligar





Na minha mala pra praia vai: filme35mm, livros, protetor.



Quero mais é jogar as pernas pro ar - o biquini é secundário.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

cidade morta

Do alto, olho a rua
o não-movimento lá embaixo - calçada nua.
A falta de faróis a cortar a estrada
A ausência do passante percorrendo o nada.

Entre os tantos prédios sem nomes ou donos,
Para mim todos escombros.
Vejo a luz da tua janela
tremulando, singela.

Que da minha, é tão distante quanto a lua.

fora do lugar



Acordei hoje com algo meu que nem lembrava que tinha.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Limiar



O barulho da chuva e as cobertas espessas formavam a propícia dupla pra o sono. Ela não conseguia, no entanto, se entregar a este. Se encolhia entre os braços daquele que estava ao seu lado, adormecido, e acompanhava, atenta, o subir e descer de sua preguiçosa respiração.

As gotas chocavam-se contra o telhado, parecendo cada vez mais próximas. Roçou seu rosto no dele. Afastou-se. Se fechasse os olhos, podia visualizar a água escorrendo em filetes pela janela, iluminada pela luz amarela daquele único poste na rua. Reaproximou-se e ficou algum tempo desenhando, com a ponta dos dedos, contornos do perfil do vulto imerso no sono - leve para que ele não acordasse, mas com alguma pressão, esperando que seu toque pudesse invadir os devaneios noturnos do outro.

Uma sensação de arrepio percorreu seu corpo quando a pequena esfera de água atingiu seu rosto. E outra. E mais outra. Goteira se multiplicavam pelo quarto, e ela não podia se importar menos. Preencheu os espaços entre os corpos e entrelaçou os dedos nos cachos do cabelo dele. No limite entre o real e o surrealismo, a cama velejava sobre o mar formado pelas gotas da chuva. Podia ver as horas passando lentas entre um e outro fechar de olhos.. esse despertar parcial a agradava: podia levar o quarto para seus sonhos e invadir os d'ele.

Seus olhos pesavam...Os moveis sem forma deram lugar a uma névoa disforme, de onde centauros e outras criaturas fantasiosas escaparam : acordou exasperada, ainda ouvindo os cascos galopando pelo assoalho do cômodo. Procurou urgente a pele sob a sua e, então, tranquila, voltou a ao abraço.

Quando já cansava de seus delírios, os dele preencheram as paredes do quarto com galhos retorcidos que escalavam até o teto, formando uma abóbada verde sob o leito que balançava na suave maré que haviam criado.

Entre os sonhos intercalados, atravessaram a noite.

sábado, 1 de janeiro de 2011

crepúsculo

Em uma imagem de bordas manchadas e tons lavados, vi seus pés enrolados no lençol. Sob a luz amarela matutina, vi o cílio que se esquivara do sono, pousado sobre tua face. Em um retrato fora de foco, vi você de roupas molhadas em uma parada de ônibus. Entre a mistura de tons, o sorriso fácil contra as nuvens rosadas do entarceder.

Embaixo do último feixe de luz do dia, vi o sono fisgá-lo pelo tornozelo...

E ainda no escuro senti sobre a testa teus lábios suaves e as palavras não ditas de despedida.