sábado, 31 de março de 2012

da minha..

Insônia crônica
Falta de sono por falta de cachos

Pequena história da pequena menina que sonhava de menos

Sua insônia nasceu da teimosia em não dormir. Pequena garota de longas tranças, se desfaziam conforme se agitava em seu travesseiro.
Quando até o abajur da cabeceira havia adormecia, ela persistia. Criança que queria ser maior do que era, a madrugada era seu tempo exclusivo - ninguém estava ali para dizer-lhe a idade que tinha. Era seu mundo particular: ela, sua cama, seu bichinho de pelúcia perfumado de baunilha e seus pensamentos grandiosos.
Pensava em todos os males do mundo: nos seus, nos das formiguinhas e nos que um dia poderiam existir – nesse ou em outro universo. Confusa e pura, todas as preocupações lhe eram genuínas.
O ruído da porta interrompe suas notas imaginárias. Espia ligeira – é sua mãe com um copo de leite quente e bolachas. Pensa, esperta, que se tomar o que a mãe lhe trouxera, teria que acordar no meio da madrugada sozinha para ir ao banheiro. Sair de sua cama quentinha e colocar os pés no piso gelado. Não, senhor, obrigado.
Fecha os olhos e simula o sono. Se fecha em uma conchinha, parecendo ainda menor, e afunda o rosto no edredom macio.O colchão afunda com o peso do corpo da mãe. Sente um beijo terno na maçã do rosto. E em seus olhos fechados. Terno. E quente. E macio.
Sua única preocupação é fingir dormir.
Dorme.

quarta-feira, 28 de março de 2012

fuck fate

Se sentaram juntos em um parque. Como sempre fizeram. Enquanto o céu se tornava escuro, mudando de cores até decidir-se por um marinho infinito. Olhou para ele e sentiu um arrepio. Não sabia se pelo desejo de aproximar-se ou por frio - talvez os dois. Foi quando sentiu-se só, desejou que ele fosse direto. And watched out for a simple twist of fate.

Caminharam lado a lado, o espaço entre os dois corpos oscilava. Um pouco bastante confusa, se lembrava bem. E enquanto via seu rosto se aproximar na penumbra e seus lábios se tocavam, pensava em um trem que chegava sob o disfarçe da noite e se chocava contra ela. Moving with a simple twist of fate.

Quando se despertou os olhos ainda cheios de memórias, cobriu o corpo com rapidez. Se despediu com um beijo sobre sua face e com um uma nota que deixou entre seus livros. Saiu sem olhar pra trás. And forgot about a simple twist of fate.

Ele acordou e o quarto estava escuro. Não a viu em lugar nenhum. Disse a si mesmo que não se importava, abriu as janelas. Sentiu que o eco preenchia o quarto. Brought by a simple twist of fate.

Caminhou pelo pier à sua procura. Talvez ela viesse buscá-lo também. Encontrou-a observando o mar e quando pousou a mão sobre seu ombro desejou que não tivesse tocado-a. Ela, por sua vez, fechou os olhos e sentiu o peso daquela mão sobre seu corpo, desejando não virar-se. Somente se as ondas pudessem refazer seu percurso até o horizonte. Se quando o olhasse, fosse outro dia, outra sorte, outro presente - um que não tivesse um passado atrás de si. One more time for a simple twist of fate.

People tell me it's a sin
To know and feel too much within
I still believe she was my twin - but I lost the ring
She was born in spring but I was born too late
Blame it on a simple twist of fate.

terça-feira, 27 de março de 2012

"em caso de emergências, respire fundo 3 vezes"

Alongar os pulmões ao máximo, até que se sinta o impossível e infinito peso do próprio ar dentro dos órgãos, como se ocupasse cada esquina de cada alvéolo - flutuaria, se não fosse como chumbo.
E então deixá-lo ir, a carne murchando dentro de si como um balão que foi estourado subitamente - fim.

Mas não.
Ansioso por encher-se outra vez, esvaziar-se. Repedidamente. Incansavelmente. Até que canse.

terça-feira, 20 de março de 2012

livro velho que nunca li

Acordei e lembrei de uma menina de um livro infantil que um dia ensopou o travesseiro como nunca antes visto. A explicação era: perdera sua coleção de conchinhas.

Apesar dos outros não entenderem sua obsessão, gostava muito daqueles pedaços de mar que recolhia com tanto cuidado da areia.

De qualquer maneira, teve que trocar o tecido que havia lavado com seu luto pelas conchinhas.

domingo, 18 de março de 2012

Eichhörnchen

Quero que me ames como amarias a um esquilinho
Me pegue no colo apertado
Que ache bonitos meus dentinhos
Me ponha a dormir ao teu lado

Um esquilinho de pelos altos
Sentirias eterna nostalgia do cheiro
(mistura de castanha e pasto)
Afogarias o rosto sem receio

Poderíamos sair a passear
Mão na pata, pata na mão
Sem medo da hora de parar
Não deixaríamos para trás migalhas de pão

Olhar terno e inocente
Coração que palpita acelerado
Rola na grama contente
Do esquilinho e de seu amado

Me ames com a simplicidade com que amarias um esquilinho
E se em meus olhos houver medo
Me alimente, me dê carinho
Me ames com a simplicidade com que amarias um esquilinho

sábado, 10 de março de 2012

Da distância entre braços

A ânsia de levar comigo
Travesseiro, você e pente
No meu abraço do mundo inteiro
Não há lugar pra nenhum pertence

O corpo alongado entre paredes
Dança com outro em sintonia
Sob os braços expostos tantas vezes
Agora uma só gota de suor, fria.

Tato que recorreu o chão;
A busca por qualquer memória
Entre minhas mãos só escuridão
Resta a poeira que virou história

Nosso roçar de rostos de adeus
Tão cinza, frio e sem sede
Da ponta dos meus dedos até os seus
Encontro lugar para os dele.