sábado, 31 de março de 2012

Pequena história da pequena menina que sonhava de menos

Sua insônia nasceu da teimosia em não dormir. Pequena garota de longas tranças, se desfaziam conforme se agitava em seu travesseiro.
Quando até o abajur da cabeceira havia adormecia, ela persistia. Criança que queria ser maior do que era, a madrugada era seu tempo exclusivo - ninguém estava ali para dizer-lhe a idade que tinha. Era seu mundo particular: ela, sua cama, seu bichinho de pelúcia perfumado de baunilha e seus pensamentos grandiosos.
Pensava em todos os males do mundo: nos seus, nos das formiguinhas e nos que um dia poderiam existir – nesse ou em outro universo. Confusa e pura, todas as preocupações lhe eram genuínas.
O ruído da porta interrompe suas notas imaginárias. Espia ligeira – é sua mãe com um copo de leite quente e bolachas. Pensa, esperta, que se tomar o que a mãe lhe trouxera, teria que acordar no meio da madrugada sozinha para ir ao banheiro. Sair de sua cama quentinha e colocar os pés no piso gelado. Não, senhor, obrigado.
Fecha os olhos e simula o sono. Se fecha em uma conchinha, parecendo ainda menor, e afunda o rosto no edredom macio.O colchão afunda com o peso do corpo da mãe. Sente um beijo terno na maçã do rosto. E em seus olhos fechados. Terno. E quente. E macio.
Sua única preocupação é fingir dormir.
Dorme.

Nenhum comentário:

Postar um comentário