segunda-feira, 25 de abril de 2011

mudei de cep

espiei o sol nascer entre as persianas do teu quarto. deixei, ao entardecer, ele morrer nas minhas costas - tinha, pois, os olhos no outro horizonte.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

o limite pulou a cerca

To pulsando por algo tão grotesco que ultrapasse a barreira, até chegar no belo. E então ir adiante.

reticências

"Não sei". A resposta mais genial e mais estúpida - abre, ao mesmo tempo, todas as possibilidades e nenhuma.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

this is my way

A colher revolvia o líquido para um lado e para o outro, não era que brincava com a comida - interagia com ela. Pousou o prato fundo por um instante e se dedicou a olhar o relógio na parede de forma intensa, os ponteiros continuam a mover-se (ou a não mover-se, pela perspectiva da garota) na mesma velocidade de sempre, não pareciam ter a pressa que ela tinha.

Voltou à sua sopa, continuando a agitá-la distraidamente com o talher. As pequenas letrinhas flutuantes giravam desordenadamente e ela se pôs a juntá-las de maneira quase infantil, buscando formar palavras.

Tinha todo o alfabeto ali. Todas as possibilidades. Elas sempre estão ali, bastava que quisesse vêr-las, mas...insistia em formar uma única palavra, irritantemente. Considerou que a comida requentada estava a lhe pregar uma peça ao voltar a juntas as mesmas letras. A verdade é que não, não havia nenhuma divindade do acaso a guiá-la e tão pouco haveria uma que a impediria de formar outras sílabas.
Era um poder estranho, só o que necessitava era saber o que queria.

Era sua escolha.

O interfone soou anunciando uma chegada. Ela largou o pequeno universo letrado em cima da mesa, deixou o relógio para trás e correu para a porta.

domingo, 3 de abril de 2011

mesa de esquina

Há algo de mágico em sentar em uma esquina, tomar café e observar o movimento da rua.

Espero, paciente, entre o vem e vai de carros, a sinaleira acender sua luz vermelha para depois voltar a apagá-la.

Tento adivinhar - pelas expressões - qual motorista tem um evento importante a que está atrasado, quem está pensando no quadro novo que comprou para pendurar na sala, se há alguém dirigindo para um lugar enquanto preferiria outro...

Os taxistas têm sua peculiaridade, completamente alheios a vida que acontece no banco de trás.
Ônibus são quase uma overdose, porém não me distraio com a variedade de rostos nas janelas: me foco no motorista. Fatigado, percorrendo a mesma rua pela décima vez no dia, sem realmente prestar atenção nos movimentos já metódicos que realiza - na verdade, não me parece tão distinto das outras pessoas que passam.

Até que um loiro de cabelo escovado, dirigindo uma versão nova de um carro esporte que nunca saberei o nome, percebe minha silenciosa observação. Ele, depois de mostrar seus dentes perfeitamentes alinhados em forma de sorriso, me faz um convite. Não sei qual de nós dois estava mais longe do outro, presos em seu universo particular. Com troca de sinal, seguiu seu caminho e eu continuei em minha sempre vazia mesa de café.