A colher revolvia o líquido para um lado e para o outro, não era que brincava com a comida - interagia com ela. Pousou o prato fundo por um instante e se dedicou a olhar o relógio na parede de forma intensa, os ponteiros continuam a mover-se (ou a não mover-se, pela perspectiva da garota) na mesma velocidade de sempre, não pareciam ter a pressa que ela tinha.
Voltou à sua sopa, continuando a agitá-la distraidamente com o talher. As pequenas letrinhas flutuantes giravam desordenadamente e ela se pôs a juntá-las de maneira quase infantil, buscando formar palavras.
Tinha todo o alfabeto ali. Todas as possibilidades. Elas sempre estão ali, bastava que quisesse vêr-las, mas...insistia em formar uma única palavra, irritantemente. Considerou que a comida requentada estava a lhe pregar uma peça ao voltar a juntas as mesmas letras. A verdade é que não, não havia nenhuma divindade do acaso a guiá-la e tão pouco haveria uma que a impediria de formar outras sílabas.
Era um poder estranho, só o que necessitava era saber o que queria.
Era sua escolha.
O interfone soou anunciando uma chegada. Ela largou o pequeno universo letrado em cima da mesa, deixou o relógio para trás e correu para a porta.
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"e correu para a porta (...)" tem que contar essa história aí
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