quarta-feira, 29 de junho de 2011

people watchers

Não era o lugar mais conveniente para se comer, aliás, o oposto disso - como se, dentro de um projeto pessoal de almoçar em lugares não ortodoxos, tivesse escolhido aquele para o experimento da semana.
E ali estava, se erguia na forma ostentosa na selva de concreto, em direção ao céu. De um lado e do outro do extenso canteiro, carros passavam velozes, procurando chegar ao outro extremo da cidade o mais rápido possivel; ali no centro porém, algumas pessoas vendiam bugigangas aos passantes, outras liam o jornal.

A garota ao chegar ao lado do monumento, comparou a projeção da sua sombra com a do imenso adorno - a sua mal chegava ao paralelepípedo, a do obelisco, se alastrava por uma das avenidas mais largas do mundo, fazendo sombra para os pedestres.

Com seu pacote ainda quente entre as mãos, procurou um espaço livre e sentou-se entre uma das muretas, tentando proteger-se do vento que vinha por aquele imenso corredor de asfalto que era a 9 de Julio. Cruzou as pernas no próprio colo, destapou o recipiente de plástico e, depois de fazer com gestos um brinde silencioso ao progresso, começou a comer com seus talheres também de plástico.

Talvez desse partida ao seu projeto de comer em lugares não-convencionais, ou ali sempre. Era ideal: entre o trânsito constante de automóveis e pessoas, podia observar o quanto quisesse! Estava sentada com sua refeição chinesa no meio daquela confusão constante, no meio do relógio, um segundo antes do passo, um depois do trabalho. A delícia do anonimato na grande cidade.

Tão absorta em sua própria tarefa de abstrair o caminhar da senhora que passava à sua frente, não percebeu que sua descoberta de lugar não era inédita: na sua diagonal, um homem de fones de ouvido observava a senhora e agora mirava a menina fixamente pelo canto do olho. Analisava sua postura, seus anéis, seu caderno bagunçado. Seus olhares se encontraram rapidamente e se reconheceram como iguais.

No coração da cidade, um grupo desconhecidos se reunia para adorar a outros desconhecidos.

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