domingo, 8 de maio de 2011

future-to-be

Lia o livro tranquila, deitada em sua cama. Ao terminar mais um capítulo, desenfocou as páginas um momento e pousou o olhar sobre o lado desocupado do colchão - a luz do abajur do criado-mudo lançava um feixe singelo sobre o travesseiro intocado. As cobertas estavam perfeitamente estendidas. Não era uma pessoa particularmente organizada, nem tinha o costume de fazer a cama todos os dias. Hoje, porém, por algum motivo desimportante, alisou os lençóis cuidadosamente, como se a espera de uma visita. Olhava aquele vazio perfeitamente em ordem, irônico.

Virou-se sobre seu corpo e deitou de maneira a ficar frente a frente com o nada. Sabia que dali a dez dias, estaria olhando para o rosto dele, e não para a fronha branca. E por saber o futuro, isso modificava o seu presente...de algum modo, aquela noite que sequer acontecera, se transportava para aquele preciso momento atual.

Não tinha saudade, não sentia a falta, a ausência - e sim uma presença intrusa. Ele tinha entrado em seu quarto, pé ante pé, silencioso, enquanto ela estava distraída, mergulhada em uma história qualquer que não a sua, e astutamente a raptara para um outro dia, naquele mesmo cenário.


Não podiam suportar a incertidão do amanhã - o construíam cada noite, antes de dormir.

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