terça-feira, 25 de outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

surgery

Afterwards, I realized i´d cut more then I should have. The strings that kept it all together were gone.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

chuva no bairro chinês

Sempre que ia ao bairro chinês, chovia.
As sombrinhas coloridas competiam por espaço na calçada, exibidas. Diziam: sou oriental e custo menos de 5 reais.
A última vez que havia ido, comprou uma na tentativa de manter-se seca, o que acabou por falhar, já que ao iniciar o caminho de volta para casa o guarda chuva se desmontou. Como se houvesse uma magia que não permitisse que funcionasse em outros lados da cidade.

Tudo ali tinha mais cores e mais plástico. O idioma era outro, mas quando olhava os tristes rolos de primavera deixados no fundo da panela, fritos e frios, sentia uma empatia.

Nas tendas, as mais distintas bugigangass com símbolos estampados que não lhe diziam nada, ou pensando bem, diziam: me compre. Bonecos com sorrisos que iam até as orelhas, olhos grandes que para ela pareciam esbugalhados em terror. Use um como chaveiro, coloque o outro na estante. Contrastavam com os rostos suados dos vendedores, que já incerciamente, acompanhavam as letras das exóticas canções, sentados no caixa tamborilando os dedos.

Outra vez do lado de fora, excitada com a idéia dos novos sabores que provaria, buscava entre as vitrines algo que lhe parecesse diferente.

Sentia que, no entanto, já havia provado o essencial daquele lugar e era igual que o seu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

vai e vem

voam plenos em sua autonomia
seguem qualquer via:
talvez a violeta de fim de tarde
ou a encruzilhada que lhes der vontade

cantam as melodias mais raras
descompassadas e descabeladas,
pulam em contratempo
constroem o ritmo conforme o vento


e com tanta liberdade
não se perdem dentro do próprio caminho?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

that´s the way

And yesterday I saw you kissing tiny flowers,
But all that lives is born to die.
And so I say to you that nothing really matters,
And all you do is stand and cry.

o fenômeno da reverberação aplicado a adolescentes em uma tarde quente

Desenhava círculos no ar com os pés suspensos. O corpo rencostado na rede, já sem energia. Mirava o horizonte com os olhos semi cerrados - esperava o pôr-do-sol.
O outro corpo na varanda também estava imóvel, sentado em uma cadeira de balanço que não balançava. As árvores não agitam suas folhas. Era uma tarde de verão insuportavelmente quente.
O único ruído que atravessa a densidade do ar era o canto das cigarras - se podiam ouvir há dias, mas a chuva não chegava. Até que a garota arriscou:

- Talvez pudéssemos tomar uma limonada.

Os dois se entreolharam e a seguir voltaram-se para o interior da casa de madeira: não tinham realmente vontade de entrar no único lugar na face da terra que deveria estar mais quente que ali, ainda mais para fazer suco.

- Acho que não foi para essas férias que nos inscrevemos, quero meu ticket de volta. - e uma risada constrangida que ecoou por minutos.

As palavras estavam tão escassas quanto a brisa.
O garoto levantou-se e deitou-se ao lado dela na rede, que balançou e fez um ruído metálico em reclamação ao peso, até que calou-se.
Ela ajeitou-se no ombro dele.

- Tenho um presente pra ti. Encontrei o outro dia na praia. Estava guardando pra outro momento mas... - e levantou com a perna a bolsa que estava jogada ao chão. Colocou um braço dentro, o outro, revirou, até que volveu-se vitoriosa ao outro com as duas mão cerradas e um meio sorriso no rosto.
Abriu os punhos dela como quem desembrulhava uma embalagem cuidadosamente feita, levantando lentamente dedo após dedo. O rosado pastel que surgiu trouxe uma nova cor à tarde lenta.
Tirou cuidadosamente os resquicios de areia da superfície e levou o presente ao lado da cabeça, encostando-o a sua orelha.
Ela pensou em dar o discurso que tinha programado pra quando lhe entregasse. Ao invés, por entre seus lábios surgiu somente uma frase, meio abafada e desajeitada:

- Aí dentro a brisa é eterna.

Juntaram-se, os dois quietos, escutando atentamente ao som de todos os outros dias.

O sol parecia não querer se pôr.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011