Os dedos inquietos seguindo as gotas de água que escorregavam pela janela. A paisagem cinza. A pele tão fina sobre os ossos. O silêncio tão frágil.
Abriu os lábios e voltou a fechar-los. Finalmente, sua voz competindo com o som das chuva que caia sobre o telhado, disse:
-Existem tantas pessoas à minha volta como existem gotas de água caindo sobre a calçada. E mesmo assim, a minha pessoa é só uma.
Tinha um gosto insistente de amargura na ponta da lingua.
- E ninguém me deu a opção de escolher uma segunda. - completou.
O garoto, deitado no chão do quarto em um grosso tapete, também observava a pequena tempestade, que golpeava o teto de vidro e ameaçava quebrá-lo a qualquer instante - algo que interromperia a cena uma última vez, definitivamente, mas não o fazia. Parecia que nunca deixariam esse quarto.
Ele tinha uma expressão serena quando lhe falou:
- Eu te levaria passear, se não corrésemos o risco de afogar-nos nessa tormenta.
- Deveríamos ir de qualquer maneira.
No entanto, nenhum dos dois se moveu. Não podiam.
- Se houvesse qualquer lugar para ir. Mas estamos presos aqui. Nessa casa tudo que se escuta são ecos de algo que já passou. E a infinita chuva no telhado. Infinitos ecos...
Seu discurso era lento e interrompido, as palavras escapavam de sua boca, deixando uma pequena morte em sua garganta.
Seguiriam escutando a chuva mesmo se terminasse de chover.
Aquele gosto amargo de despedida outra vez.
Que nunca acabava de despedir-se.
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